sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Voltar... a dançar com o olival...



Não sei porque tão teimosamente irracional te procuro...
entre o frio e a geada,
na magia do despertar!

Imagem: Despertar da Natureza. Nov. 2015, Portugal.

E continuo a procurar,
no tempo parado,
para contigo dançar,
ao sol também...

Imagem: Olival. Nov. 2015, Portugal.

Volto para te abraçar,
e entre teus braços inteiros,
um abraço cheio te dar.

E me recordas,
e me acolhes,
apesar do teu cansaço,
e aquelas velhas memórias
começas a relembrar:


Imagem: Oliveira (1). Nov. 2015, Portugal.

 Quando criança,
em mim te balouçavas,
e entre as minhas frias saias,
caías e te levantavas,
e tanto, tanto...
que a gente voava, voava!" 

Será por isso que te procuro?
Para que não me deixes esquecer,
ande por onde andar,
de quem sou, 
de como é bom voltar!
Te amar e abraçar.


Imagem: Oliveira (2). Nov. 2015, Portugal.

E a tua, e a nossa, história contar:


Imagem: Azeitona em Oliveira. Nov. 2015, Portugal.


"Entre tantos caminhos,
campos e flores...
E figos, de todas as cores...
E tantos sabores e odores!

Entre tantos...
velhos e novos rostos,
tantos trevos e
tantas folhas...

Com minhas mãos te encontro...
E subindo escadas pra te apanhar,
suavemente te enlaço, penteio,
colho... e me enlevo...

E te ouço,
 levemente caindo,
colorindo tua saia,
verde, reluzente...

E em pausa,
enquanto como...
Tu esperas
que te leve a casa...

Pra cirandarmos ao serão,
e te joeirar,
de novo...
quando te limpo e escolho.

Então te junto, azeitona,
pra depois te transportar
a lagar,
que te há-de laborar.

E te acompanho...
pesando, lavando,
andando e rolando...
E te aprendo a transformar.

Até separares o teu bagaço,
e sem o duro do fruto,
ardes a iluminar...
E o que sobra da tua massa,
em estufa, ainda a valorizar.

E pra ti olho, azeite!
Te vejo límpido.

Rolando até mim,
te vejo voltar...
sabendo à alma
das gentes, 
ares, flores,
campos e tempos,
que te ajudaram a criar.

E em azeite a brilhar...
oliveira,
a história de ti...
da gente,
pra contar."


Imagem: Azeite. Nov. 2015, Portugal.

Um abraço a todos,
aos que continuam a caminhar,
a dar aos pés, a dar os braços,
para dançar com o olival.

\o/
Aos que connosco caminharam,
ajudaram, compartilharam,
se renovaram,
e com a alma cheia ficaram.
Nós, também.

Obrigada 

_/\_

Maria





Mais: Sobre a Oliveira
"Árvore de uma riqueza simbólica muito grande: paz, fecundidade, purificação, força. Em todos os países europeus e orientais, a oliveira reveste-se de significados semelhantes.
Na Grécia, era consagrada a Atena (deusa da fecundidade e da sabedoria, protectora das crianças, inspiradora das artes e dos trabalhos da paz...) e, em Roma, a Júpiter (a divindade do céu, da luz diurna...) e a Minerva (deusa das artes e da sabedoria...).
Nas tradições judaico-cristãs, era símbolo da paz, do ouro e do amor.
No Islão, é a árvore central, o eixo do mundo, símbolo do Homem universal. O azeite, porque extraído dessa árvore, aparece associado à luz, que alimenta as lâmpadas, e à pureza.
De forma semelhante, no esoterismo ismaelita, a oliveira no cimo do Sinai é uma representação do Imã: é simultaneamente o eixo, o Homem universal e a fonte de luz.
No Japão, simboliza a amabilidade, bem como o êxito nos estudos e nos empreendimentos civis ou guerreiros: árvore da vitória.
Segundo uma lenda chinesa, a madeira de oliveira neutralizaria alguns venenos e peçonhas: o que lhe confere um valor tutelar. (...)" (In Dicionário dos Símbolos. J. Chevalier; A. Gheeerbrant. Lisboa: Ed. Teorema, 1994; pp.486-487)

"A cultura da oliveira, «a mais prestigiada árvore mediterrânea», e o trabalho da extracção do azeite conhecem-se na bacia do Mediterrâneo desde a IV dinastia egípcia, altura em que se importou azeite da Palestina e da Síria, e, no final da sua história, da Grécia. Já então, além dos usos alimentares, o azeite era amplamente utilizado em unguentos, medicina, perfumaria e inumações.
Em Portugal o nome da árvore é de origem latina, mas o nome do fruto é de raiz árabe. Jorge de Alarcão diz que «não é seguro terem sido os romanos os introdutores da oliveira no nosso território, é muito possível que esta árvore tenha sido trazida pelos Cartagineses, se não mesmo por Fenícios». A preferência alimentar dos romanos deve ter incrementado o seu cultivo «sem contudo a propagarem para o norte pois os lusitanos utilizavam a manteiga como gordura». Mas é certamente aos romanos que devemos a maior parte da herança dos sistemas e métodos usados na extracção do azeite. (...)
A oliveira começou, como todas as plantas cultivadas, pela simples utilização da variedade bravia, esparsa e afogada no matagal mediterrâneo. A sua longevidade conta-se por milénios (...) Aceita-se que na Turquia continuam em produção árvores plantadas pelos romanos. O olival é assim a cultura mais estável que existe (...) Para os gregos é uma árvore não plantada pela mão do homem, germe de si mesmo nascido, que ninguém ousaria arrancar pelas próprias mãos porque olham para ela os deuses de olhos claros (Sófocles, Édipo em Colono).
Acomoda-se «a quase todos os terrenos, dentro da área que se poderá considerar o clima mediterrâneo clássico, até um limite em altitude que se fixa, em Portugal, em torno dos 700m». Nos primórdios da sua expansão, ela aparece associada a culturas mimosas nas cinturas das povoações; partilha depois espaços agrários mais amplos com outras culturas; e expande-se e imiscui-se por surgências rochosas e terrenos esqueléticos, testemunhando um dos mais surpreendentes e épicos desafios que o nosso homem do campo travou, num passado recente, com as condições adversas do meio natural. (...)
Hoje, essa nobilíssima árvore aparece despojada de cargas simbólicas e cultiva-se ou arranca-se conforme ditames de racionalidade económica de um presente em franca mutação. Nesse processo de desvalorização, Orlando Ribeiro viu o «símbolo do declínio de uma civilização agrária». (In Tecnologia tradicional do azeite em Portugal. Benjamim Pereira. Centro Cultural Raiano/C.M. Idanha-a-Nova: Julho, 2005; pp.13-139)

Oliveira, árvore que aprendeu a partilhar e a conviver em paz com todas as outras, a árvore que estamos a perder e a deixar ficar para trás. E com ela, nós também.
Maria, Novembro de 2015

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Até à Lua da Viagem...


Algumas tribos nativas americanas chamam à Lua Cheia de outubro a "Lua dos Caçadores" (Full Hunter’s Moon), uma vez que ela marcava o tempo de ir caçar e recolher alimentos, preparando-se assim para o inverno do norte. Mas esta Lua Cheia de outubro também é conhecida pela "Lua da Viagem" (Travel Moon).
Aqui está a nossa, tal como a vimos nesta semana :)

Super Lua Cheia de outubro, 2015, Portugal. (1)

É a última Super Lua do ano, e convida-nos a entrarmos em viagem.
Numa longa viagem, que é "nossa"...


Super Lua Cheia de outubro, 2015, Portugal. (2)

Super Lua Cheia de outubro, 2015, Portugal. (3)
Super Lua Cheia de outubro, 2015, Portugal. (4)

Neste período, em que festejamos o Samhain, o Halloween, o Diwali, os Santórios e outras celebrações, recordemos também o seu significado e a longa viagem:

"A Festa ou festival de Samhain comemora a passagem do ano dos Celtas, de 31 de Outubro para 1 de Novembro. Marca o fim do ano velho e o começo do ano novo. Noite do fogo novo e da inspiração.
Celebração Celta, com grande influência na Galiza e Norte de Portugal. Nesta noite, os Celtas, povo com profundas crenças na imortalidade da alma, acreditava numa comunhão com o espírito dos seus antepassados. Na Galiza e Norte de Portugal, faziam-se fogos sagrados com ramos de sorveira brava e teixo com que se alimentavam as lareiras das casas. Também se usavam cabaças iluminadas por dentro. Vários séculos depois, esta tradição, que ainda se mantém, tem continuidade nas festas de Halloween, que se expandiram para os Estados Unidos, Canadá e Austrália, levadas pelos ingleses e irlandeses no século XIX.
Dizem que as cabaças eram colocadas nas ruas, junto às portas, para dar as boas vindas aos espíritos dos antepassados e alumiar a sua passagem, enquanto outras narrativas contam que as cabaças iluminadas serviam exactamente para o efeito contrário, isto é, para os afugentar."

Desta última interpretação até à famosa e actual "Noite das Bruxas" foi um pequeno passo... ;)

"Sobre o Fim do Ano Celta, e a Roda do Ano, a roda que representa a eternidade, o Samhain marca o fim de um ciclo, morre um ano e outro novo começa. O encontro com os antepassados, as luzes que os guiam, as lareiras que os acolhem nos seus antigos lares, onde partilhariam as suas comidas e bebidas favoritas, poderia ser um momento de comunhão, de reflexão sobre a existência, associada à morte, ao encontro, e também à renovação... ", «como com a Deusa Mãe (Natureza) que se renova a si mesma.»

Outra celebração, cheia de significado, que festeja a luz, a prosperidade, a união, é a Festa das Luzes, o Diwali, o festival religioso hindu que simboliza a vitória da luz sobre as trevas.
Na Comunidade Hindu de Portugal, quando chega o Diwali há sempre uma pausa no calendário. Este ano o Diwali acontece no próximo dia 11 de novembro.
"A Comunidade Hindu em Portugal celebra a Festa das Luzes, numa cerimónia semelhante ao Natal.
Existem várias razões para a celebração do Diwali. A narrativa mais popular é que o Diwali é baseado no épico Ramayana, que relata a história e a vida de Rama. Naquela escura noite de lua nova, os moradores de Ayodhya acolheram com alegria o regresso de Rama, Sita e Lakshmana, após a derrota do demónio Ravana. As ruas, foram decoradas com lamparinas, festejando o triunfo do bem sobre o mal.
Seguindo essa tradição, os hindus celebram o Diwali pintando Rangoli e colocando lamparinas de óleo ou Ghee (manteiga purificada) na entrada das suas casas. Rangoli caracteriza-se por uma pintura simétrica pintada no chão com pó colorido, simbolizando alegria e cor. Há também uma abundância de doces que simbolizam a doçura e o amor.
Outro significado do Diwali é que a luz espiritual interior do individuo, deve ser reflectida para o exterior. O Deus Rama é recordado como o perfeito exemplo do cumprimento do Dharma reforçando a prosperidade e a responsabilidade para com Deus.
E porque este é um momento auspicioso, família e amigos reúnem-se em suas casas para reforçar a prosperidade e a união." (Filomena Silva in Página da Comunidade Hindu de Portugal no Facebook: facebook.com/chpmandir, 30/10/2013)

Entre nós, é também por esta altura que festejamos o Dia de Todos os Santos, o São Martinho, as Descamisadas..., manifestações do "Ciclo das colheitas ou da partilha", mencionado por Moisés Espírito Santo:

"As festividades do ciclo da germinação representam uma ruptura na consciência colectiva do grupo.
Desde o princípio da floração, o grupo refaz progressivamente a sua unidade, a partir de bases novas e de novas uniões matrimoniais ou sentimentais, para se encontrar em plena harmonia no princípio das colheitas, momento a partir do qual tentará a sua sobrevivência, graças à partilha.
Deste modo, as festividades aldeãs, através da arte popular, representam o ciclo completo da vida: nascimento, morte e renascença do grupo, e que é paralelo ao trabalho agrário, de que depende a comunidade." (In Tradições de Aguim)

E por Ernesto Veiga de Oliveira e Joaquim Pais de Brito:

"Ao começo do Inverno, a construção do calendário cristão associou o Dia de Todos os Santos (dia 1) e o dia de Fieis Defuntos (dia 2).
Durante este período, as comunidades intensificam as relações dos seus membros numa auto-referência a si próprios, numa centripetria dos grupos, ao mesmo tempo que se abrem para formas diversificadas de comunicação com os seus antepassados - os mortos, aqueles que traduzem a comunidade na sua maior amplitude e na sua maior profundidade, e de certa forma dão sentido à comunicação dos vivos, por lhe devolver a identidade das suas origens, da sua inserção e da ancoragem no tempo.
Deste modo, prevaleciam as ofertas de natureza alimentar dos padrinhos para afilhados e dos afortunados ou generosos aos pobres e às crianças que, de cesta no braço ou sacola ao ombro, pediam o santoro de rua em rua, de porta em porta..." (In Doces de Festa)
 
Santórios 2014, numa aldeia de Portugal.

 Nas palavras do meu estimado Michel, que faço minhas: "São fascinantes todos estes rituais e celebrações. Há, nas nossas leituras, um impulso constante em procurar reconhecer-nos neles, onde eles existem em nós, independentemente da cultura que os enunciou. Reconhecemos neles algumas estratégias que usamos em relação aos nossos medos", desejos,  aspirações... "Ao desenhá-los, enunciá-los, contemplá-los, expô-los, "dialogamos" com eles. Ao "associar-nos" a eles, medos", desejos, aspirações... "tornam-se nossos cúmplices, e com isso algo em nós" acalma e "se tranquiliza".
É. Como se fossem memórias esquecidas, que ficaram escondidas no tempo, algures, e que suavemente vamos buscar para nos ajudar.
E é fascinante sim, olharmos com os olhos de outros povos e culturas, percebermos que partilhamos tanto com eles, e que apesar de toda a nossa evolução, continuamos com as mesmas interrogações fundamentais sobre nós e o que nos rodeia.
Quando lemos sobre eles, também nos transportamos até lá e voltamos como se nos reconhecêssemos neles. Quando vivemos as suas celebrações, costumes, que passaram de geração em geração, pela transmissão oral ou outras, vamos e voltamos, com os mesmos olhos.  ((In "À partilha e à inspiração". Train your Mind - Nature & Plus no LinkedIn, 31 de out. 2013)

Por isso, a nossa Lua Cheia de outubro é a "Lua da Viagem"!
Uma lua que vai e volta, cheia de luz, paz, prosperidade, generosidade, partilha, renovação e inspiração! Para celebrarmos quem somos, para não esquecermos o melhor de nós _/\_


E um grande Bem-Haja.
A todos,
A quem caminha, ainda, pelos Santórios
enchendo as suas sacolas com laços, raízes e tradição.
A quem dá e a quem recebe,
com generosidade e paixão.
A quem transforma a partilha,
num abraço único de harmonia, força e renovação
que enche o coração.

(In Santorios 2012)

Bom Samhain, Halloween, Diwali, Santórios... e sobretudo uma Boa Viagem  :)

Caminho, viagem.

 Um abraço a todos,
Maria

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Setembro lunar...


Em setembro veio a Super Lua Cheia,
e com ela, também, um eclipse total lunar:

A pouco e pouco, desmaiando,
vimos como se sumia no ar,
com a sombra próxima da Terra
na sua face, brilhante,
movendo-se, devagar...
 Espelhando-se nela,
conversando, redondas,
até o eclipse passar.

Que diriam uma à outra,
neste encontro de luz solar?

Pelo tom deste falar...
corando, baixinho, 
passeando toda a noite,
e toda a noite se guiando,
pelo Sol, testemunha circular.

Foi a 28, e há muito
não tinham um encontro assim!
As pessoas que sabem até dizem que
 foi no século passado, 
nesses loucos anos oitenta,
em que ainda viajávamos no tempo,
e saltávamos para a frente,
rumo ao futuro, esperançados.


Para lembrar esta Lua eclipsada de setembro,
amando a Terra em silêncio,
até 2033, 
quando as nossas memórias voltarem
a recordá-las, próximas,
nesse outro amanhã, talvez, 
de novo, mais uma vez...


Super Lua Cheia. Setembro, 27.2015.(1)

 
Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(2)

Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(3)

Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(4)

Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(5)

Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(6)


Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(7)

     

Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(8)


Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(9)



Eclipse Total da Super Lua Cheia. Setembro, 28.2015.(10)



Mais sobre o eclipse lunar total de setembro, 2015:
Observatório Astronómico de Lisboa: Eclipse Total da Super Lua

Leiam também o poema "O Eclipse", de António Nobre:

"Naquela tarde eu contemplava, ansioso,
A lua das marés:
Ia ver um fenómeno curioso,
Pela primeira vez.

Desde as sete horas que eu me achava pronto,
Pois vinha no jornal
Que se daria, às sete e meia em ponto,
O eclipse total. (...)"

Datado de 24 de Setembro de 1884, nas palavras do autor "Poesia impressionada por um eclipse, em 1884. Estava em Leça, então. Setembro, creio."
O poema tem sido investigado por diversos autores, uma vez que, naquela data exacta, não teria ocorrido um fenómeno semelhante. O eclipse total da Lua mais próximo aconteceu a 4 de Outubro de 1884.

(In
O ECLIPSE TOTAL DA LUA DE ANTÓNIO NOBRE, pp.4-14. APPA.)
E até 2033!
Abraço, Maria

Agosto, Agostinho...


Foi tempo de nascentes, 
de voltar ao gaspacho,
ao banho santo de 29,
acompanhados do belo luar,
e ao restolho, a lembrar
que é preciso nascer de novo,
recomeçar...


Rio Mira, junto a Castro da Cola; Ourique, Alentejo.

Andámos por nascentes de Milfontes, 
acompanhando o Mira, a serpentear, 
de sul para norte, desde a Serra do Caldeirão,
até ao mar, no Atlântico, desaguar...


"Onde o Mira se faz ao mar". Praia das Furnas, Vila Nova de Milfontes. Costa Vicentina, Sudoeste Alentejano.

Acompanhámos a Lua a crescer...
enquanto o dia se despedia,
azul, cor da terra,
e a alma, cheia, dizia:
amanhã, amanhã 
é outro dia...

Quarto Crescente de Agosto, Alentejo.

Preparámos e compartilhámos
um refrescante gaspacho!
E o saboreámos,
à sombra...
enquanto histórias contávamos,
e nos lembrávamos,
dos cerros e das gentes,
dos momentos, vividos, 
tão cheios de presentes...

Almocinho de gaspacho alentejano.

 E o restolho, ali tão perto!...
A lembrar que é preciso
"morrer e nascer de novo"...

Campos de restolho, planície alentejana.


E não sei quantos mergulhos demos!
para o banho virtuoso.
Mas cumprimos o ritual
do banho santo de 29,
neste oceano caloroso!
Mar de Atlas, salgado,
aos SSSSS, extenso,
impetuoso...

Oceano Atlântico (1).

Vimos o luar nascer
em cheio levantando ondas,
e um mar chão se transformando
a nossos pés lembrando
a força da atracção...

Oceano Atlântico (2).

Não sei se ficámos mais santos,
mas de alma cheia, guardámos,
a tradição de 29,
em nosso revigorado coração.


Oceano Atlântico (3).

Acompanhados do cheio luar...

Super Lua Cheia de 29 de Agosto.

E uma doce, eterna, recordação.

_/\_




Mais sobre o Banho Santo de 29: 

Celebração do dia de São João da Degola. Este ritual, herdado das antigas populações rurais do Algarve, traduz-se num banho de mar, tomado a 29 de Agosto para «curar diversas enfermidades» pois acreditava-se que a água neste dia era benta, boa para reumatismos e outras doenças. Mandava a tradição 29 mergulhos com a cabeça debaixo de água para que o banho fosse virtuoso.
As crianças e os menos afoitos eram incentivados a mergulhar. As mulheres vestiam combinações de flanela e os homens ceroulas. Crianças, rapazes e raparigas despiam-se para um banho animado com tropelias e mergulhos. Após o banho, juntavam-se todos, como uma grande família, à volta da merenda, da boa disposição e da música.
Também os rebanhos de cabras e ovelhas, oriundos de regiões distantes, desciam à praia acompanhados dos pastores e eram molhados e lavados um a um, apesar dos saltos aflitos...
Como relata Fernando Galhano em 1949, com especial relevo no livro «Festividades Cíclicas em Portugal» de Ernesto Veiga de Oliveira, trata-se de uma tradição muito antiga e de grande expressão na região.
Esta tradição chegou a estender-se das praias do concelho de Aljezur (Carrapateira, Bordeira e Odeceixe), no barlavento, aos areais de Lagos, Praia da Rocha, Quarteira e Manta Rota, no outro extremo do Algarve.
(In Carrapateira, História e Tradições. J. A. Sarmento; J. M. Marreiros (1993). Núcleo de Naturais da Freguesia da Bordeira, Casa do Algarve.)

E ainda se mantém!

"O banho santo era tradição
vinha sempre muita gente
em ceroulas e combinação
tomavam banho na água quente.

Mesmo que estivesse fria
tomavam banho também
diziam que era nesse dia
que o banho fazia bem."

(In "Banho Santo cumpre tradição")

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Até à Lua AzuL...


 

Este Agosto acordou ao luar :)

 
E nós fomos ver!...
 
Como uma bela lua azul,
agosto, acordou, a olhar,
e seu rosto brilhante,
sereno, lhe recordou:
- é tempo para brincar,
pular, caminhar,
conviver, agradecer,
descansar e amar...
 
 
"Lua Azul", amanhecer (1).
"Lua Azul", amanhecer (2).
"Lua Azul", amanhecer (3).
"Lua Azul", amanhecer (4).
"Lua Azul", amanhecer (5).
"Lua Azul", amanhecer (6).
"Lua Azul", manhã (7).
"Lua Azul", manhã (8).
"Lua Azul, manhã (9).

 Para todos nós, um revigorante mês de Agosto!


 Ah! E não podemos esquecer:
(i) De conversar com as estrelas: as Perseidas, que já andam por aí desde meados de Julho, encontram-se connosco para maior interacção entre os dias 9 e 15 de Agosto.
Para melhor observação, podemos juntar-nos à Lua Nova, que estará entre nós a 14, em zonas escuras, sem muita poluição luminosa, entre outras :);
(ii) De ir até à "Super Lua Cheia" de Agosto (sábado, 29);
(iii) De caminhar, sempre!


Mais info interessante:

- OAL: "O céu noturno em agosto de 2015

- Caminhar na e com a Natureza: "How Walking in Nature Changes the Brain" :)


Um grande abraço e até à próxima!
Maria
 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

À procura de nascentes...


Nas encostas rochosas do rio
há uma fonte,
nascente ferrosa,
xistosa,
abandonada...
E dizem as gentes do sítio,
também, abençoada!
Porque as suas águas,
frias, subterrâneas,
curam intemperanças,
do corpo, e da alma.

Imagem: Fonte Ferranha, nas encostas do rio Ponsul. Parque Natural do Tejo Internacional, Portugal.

Fomos dar com ela, entre estevas, rosmaninhos, giestas e alecrins,
rosas albardeiras, salgueiros e afins...
espécies vegetais naturais que, generosamente, se misturam ao sabor.

Nestes solos das primeiras idades do mundo,
entre as ribas selvagens do rio 
e a raia seca, do país vizinho...

Há uma fonte,
nascente ferrosa, xistosa,
abandonada, abençoada...
e a sua água, generosa,
corre, sempre, para nós.

E há mais! 
Até à próxima caminhada :)
Abraço, Maria

terça-feira, 5 de maio de 2015

Entre arribas e giestas floridas...


Caminhando entre o rio e o mar,
entre o campo e a cidade,
lá no alto do monte e das arribas,
entre fortes, 
mantos verdes,
prateados...

Luminosas e festivas,
encontrámos giestas amarelas,
Maias floridas,
tradição de muitas eras,
escondidas à vista e perdidas...

E trouxemos para partilhar,
nos renovar,
e a Primavera, 
celebrar!


 


Até à próxima,
sempre a caminhar... :)
abraço, Maria

quarta-feira, 8 de abril de 2015

À procura de um tesouro...


Diz-se que algumas almas ficam ligadas ao longo das eras,
ligadas por um chamamento antigo
que ecoa nas águas, nas terras, 
nas rochas e nas falésias...

Nesta caminhada a sul fomos à procura de um tesouro,
fomos a sítios que escondem dentro de si
uma energia misteriosa
e nos convidam 
à descoberta interior de nós mesmos.

E encontrámos nestes sítios
gente que guarda dentro de si
a força criadora, 
a entreajuda,
e os segredos do mar,
que só alguns conhecem
profundamente...

E vamos voltar :)

Imagem: Carrapateira, Aljezur - Portugal

Imagem: Praia da Bordeira, Carrapateira, Aljezur - Portugal

Imagem: Portinho do Forno, Carrapateira, Aljezur - Portugal

Imagem: Igreja e fortaleza da Carrapateira (1673), dedicada a Nossa Senhora da Conceição.


Como começou esta caminhada!

Era 1 de Abril e fazia sol. 
Qualquer que seja a origem histórica da lenda, a Atlântida, continente submerso, permanece no espírito das gentes como símbolo de paraíso perdido e na predominância, em nós, de um elemento divino.
Talvez para nos recordar que os mais belos e preciosos dos lugares, dos momentos, dos tempos, são aqueles que compartilhamos com quem estimamos, aqueles que amamos, e preservamos.
A Carrapateira faz parte dessa «lenda», um lugar mágico, mítico e inesquecível. Cheio de histórias, memórias da gente. E quando há momentos que nos chamam, nós vamos :)

A história começou assim:
«Sempre acreditei que "Portugal não é Ibérico..." mas sim Atlântico. Agora, os investigadores descobriram novas provas sobre a antiga civilização da Atlântida, a mítica civilização mencionada por Platão há mais de 2400 anos.
A lenda fala de uma civilização, verdadeira, que teria existido algures no Oceano Atlântico e sido engolida pelo mar.
Os depósitos arqueológicos agora encontrados nas escarpas e falésias da Carrapateira - cerâmica, copos com resíduos de alimentos, ossos de animais isolados, misturados com seixos de praia arredondados e conchas do mar, fauna marinha microscópica - não deixam dúvidas. Existirão ainda, no seu interior, construções cujas paredes, voltadas de frente para o mar, foram destruídas pela exposição a ondas gigantes, mas com paredes laterais conservadas e intactas.

As camadas foram detectadas até 7m acima do nível do mar e estendem-se por centenas de metros para o interior. Investigadores internacionais, entre eles arqueólogos, geólogos, e especialistas em tsunamis, encontram-se no local e prosseguem com as escavações no interior.

"De repente, um monte de depósitos começaram a fazer sentido para nós. Esta foi uma grande onda ", disse C. Sinolakys, especialista em tsunamis da Universidade da Califórnia, que já participou anteriormente noutras pesquisas em busca da Atlântida.
"O estudo de tsunamis antigos está na sua infância e não temos, até agora, sabido realmente o que procurar. Mas os mais recentes e devastadores tsunamis, como o do sudeste asiático (2004), o do Chile (2010), e o do Japão (2011) têm-nos ensinado sobre o tipo de depósitos que deixam atrás de si.", acrescentou ainda.

A Carrapateira tem o raro condão de inspirar uma grande diversidade de sentimentos que enleiam os nossos sentidos e nos invadem completamente. Quando percorremos as falésias fustigadas pelo vento norte, olhamos o mar revolto embatendo nas rochas que se erguem nas águas azuladas e de repente nos viramos para as loiras areias onde a Ribeira da Carrapateira parece adormecer, somos possuídos por uma estranha vertigem que nos fascina e inquieta.
É um lugar diferente, feito de falésias, dunas, mar, vento, céu, luz, sol; uma imensa variedade de azuis e verdes cheios de encanto, muitos perigos nas escarpas escorregadias, e magia!


E escondida, uma civilização mítica e perdida... Até agora :)» (Maria, 1-04-2015)

E lá fomos nós ;)

Mais sobre a Carrapateira:

- Carrapateira - História e Tradições. J.A. Sarmento; J.M. Marreiros (1993).

- Lugares pouco comuns (2009): Spelaion.blogspot.pt



terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Do Madeiro ao Cante...



Se tu visses o que eu vi...
sob este céu de Além-Tejo
de gente humilde,
paciente, persistente,
que encanta e
que à terra canta
em hino de embalar
seu jeito de ser,
estar, falar
agradecer e celebrar...

  _/\_

Neste Natal fomos caminhar...
até ao Alentejo,
ouvir as histórias 
à roda da fogueira,
que o vento bravio conta,
quando à noite sopra frio...

E fomos também ouvir, aprender e participar,
no "Cante ao Menino"
que partilhamos aqui
para que todos possam apreciar...
guardar nas nossas memórias,
e nos nossos corações,
preservar e sempre cantar!

Um abraço\o/
e um grande bem-haja a todos os que participaram, contribuíram
e mantém viva esta tradição, a ecoar nas noites frias dos anos,
Maria



Do Madeiro de Natal ao "Cante ao Menino" - Tradições e Celebrações de Natal em Messejana, Alentejo - Portugal.
From the Yule Log to the "Cante ao Menino" - Christmas Traditions and Celebrations in Messejana, Alentejo - Portugal.

 "O Cante Tradicional ao Menino Jesus de Messejana continua vivo nas vozes desta gente que o guarda na memória com vontade de o cantar, preservando assim a tradição desta terra. Todos os anos, na quadra Natalícia, em Messejana, se faz ouvir o majestoso «Cante ao Menino».
Além de se cantar o amor à terra, aos campos, à vida no «monte», também se canta a religiosidade, sendo um momento para apreciar e usufruir de toda a solenidade do canto alentejano de carácter religioso." (In Cante Tradicional - Menino Jesus - Tradição de Messejana, 2014)

Mais sobre o Cante Alentejano:
Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO), o Cante, em movimento rítmico, combinando os passos em harmonia, mantendo o ritmo mais lento que o batimento cardíaco, concentrando-se no som tranquilizante, para amenizar, muitas vezes, o lamento e a consciência da dor, para, em grupo, sobreviver.
No Cante há uma comunicação, sempre presente, com a Terra e uma associação com a plenitude da vida cósmica.